domingo, 11 de outubro de 2015

A importância da análise acústica na terapia de voz


Depois de muito tempo sem escrever nada no blog, gostaria de compartilhar com vocês alguns conhecimentos adquiridos com a elaboração do meu trabalho final para conclusão da especialização em terapia vocal. O escopo inicial do mesmo não era este, ou pelo menos as estratégias eram diferentes... mas os empecilhos naturais de uma pesquisa feita com seres humanos me forçaram a realizar uma revisão de literatura. Escrevi sobre os benefícios da utilização da análise acústica da voz (análise objetiva) como ferramenta de feedback para o paciente. No meu trabalho, destaquei o paciente cantor, por ser este um público exigente e ansioso por mudanças na própria qualidade vocal. A análise acústica é a avaliação da onda sonora, o que é feito visualmente (espectogramas, gráficos em 3 dimensões - tempo, freqüência e intensidade ) e matematicamente (cálculos). Os programas de análise acústica da voz fornecem gráficos com parâmetros confiáveis e que prescindem do julgamento humano, o que torna tal avaliação mais sensível às singelezas da voz cantada. Dentre as possibilidades de análise de tais programas, destacam-se:
- avaliação da frequência fundamental da voz;
- medidas de perturbação da frequência (jitter) e da intensidade (shimmer) vocal;
- PHR, medida que indica a proporção entre harmônicos e ruído na voz;
E por que tais parâmetros são importantes?
A freqüência fundamental (F0) determina o número de ciclos que as pregas vocais realizam por segundoe resulta da interação entre comprimento, tensão e massa das pregas vocais durante a fonação. A freqüência fundamental é o mais consistente parâmetro entre diferentes sistemas de análise acústica, assim como o parâmetro menos sensível às características de gravação da voz. O jitter indica uma pertubação ou variabilidade na freqüência fundamental, enquanto que shimmer refere-se a uma perturbação na amplitude da onda sonora, ou intensidade da voz. Alterações no jitter são causadas principalmente por falta de controle na vibração das pregas vocais, enquanto que para haver alteração de shimmer, é necessário existir redução de resistência glótica e lesão de massa nas pregas vocais, com ruído de fundo e soprosidade relacionados.
Por fim, PHR é descrito como a relação entre a componente periódica-vibração das pregas - e a componente aperiódica ruído glótico- em uma fonação sustentada, que corresponde ao ruído adicional proveniente das pregas vocais e do trato vocal.
Para todos estes parâmetros, há valores considerados normais ou patológicos; a possibilidade de monitorar a própria performance vocal torna a terapia mais agradável e produtiva. dados da análise acústica permitem medir mais objetivamente os resultados obtidos em uma terapia de aprimoramento vocal. 
A arte do canto tem estado à frente da ciência, mas aos poucos, a acústica vem explicando fenômenos que professores de canto conhecem há séculos. Com o avanço da tecnologia, o uso de registros acústicos tornou-se um forte aliado à compreensão e evolução das técnicas de canto, como tem ocorrido na fonoaudiologia e na otorrinolaringologia. Estas especialidades médicas apresentam crescente interesse no estudo da voz cantada, visando o aprimoramento do tratamento de problemas vocais em cantores profissionais e amadores. 
A representação gráfica de parâmetros importantes para a voz acelera o treinamento vocal, pois possibilita melhor percepção do mecanismo de fonação. O uso de registros acústicos tornou-se um forte aliado à compreensão e evolução das técnicas de canto. No entanto, mais estudos voltados para os ganhos obtidos com o uso da análise acústica como instrumento de feedback na avaliação e treinamento da voz cantada são necessários.